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Battlestar Galactica: 4×18 – Islanded in a Stream Of Stars (Sci-Fi Channel)

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[SPOILERS] “You know sometimes I wonder what “home” is. Is it an actual place? Or is it some kind of longing for something, some kind of connection?”

Qual a parte mais difícil de escrever as críticas aos episódios finais da nossa série favorita? Saber o que dizer, conseguir transpor para o papel (ou, neste caso, para o monitor) aquilo que nos passa pela alma ao dizer adeus para sempre a personagens e histórias que nos marcaram. E quando se demora tanto tempo a escrever um texto quanto deste lado, é natural que a tarefa se torne ainda mais difícil, ao encontrar nos poisos regulares textos brilhantes de outros que conseguiram pôr em palavras aquilo que sentimos. Talvez por isso, estas críticas nunca soem tão bem no monitor quanto na minha mente. Talvez por isso, à demora de uma viagem cansativa se tenha juntado a dificuldade em dizer mais do que disse Myles do Cultural Learnings na sua brilhante análise ao episódio.

Mas porque a noite ainda agora começou, e a espera pelos episódios finais de “Battlestar Galactica” se faz ainda sentir com intensidade nesta sexta-feira, não há como escapar ao inevitável e tentar ordenar os pensamentos dispersos antes de iniciar o texto sobre um episódio que conseguiu, por diversos momentos, partir-nos o coração.

Como muito bem foi explicado na análise acima mencionada, o tema da procura de um lar, de um local a que chamar casa, tem sido um dos temas principais desta história desde a mini-série. Desde a destruição das Colónias, Kobol, New Caprica, o planeta das algas, a Terra… todos estes foram locais que representaram um ideal, o sonho de encontrar um local onde este povo poderia descansar e reconstruir uma vida. Mas porque a realidade é mais cruel do que qualquer utopia imaginada, o que encontraram de cada vez foi apenas mais destruição, mais mortes, mais violência, mais desespero. E agora que a grande protectora destes refugiados, a poderosa Galactica, se encontra em final de vida, que a busca de mais um planeta habitável se mostra cada vez mais difícil e que o final está a chegar, a longa viagem em busca de um lar poderá nunca vir a ter o final feliz desejado. Mas para algumas das personagens que conhecemos desde o início, o local a que chamam lar poderá estar bem mais perto do que pensam.

Starbuck, Baltar, Tigh, Helo, Adama e Roslin, Boomer. Cada uma destas personagens teve o seu objectivo desde o início, uma ideia definida sobre aquilo que eram, aquilo que queriam ser, aquilo que queriam fazer antes de morrer. Todos eles se viram, ao longo das quatro temporadas, obrigados a mudar as suas expectativas, aquilo que acreditavam e mesmo aquilo que eram. Para alguns, as mudanças profundas tiveram consequências graves; para outros, pelo contrário, as mudanças foram aquilo que acabou por salvá-los do caminho de destruição em que se encontravam. Nenhum, pelo contrário, saiu indiferente.

Sem dúvida um dos maiores mistérios desde o final da terceira temporada, o destino de Starbuck (Katee Sackhoff) tornou-se ainda mais surpreendente quando descobriu na Terra devastada o seu próprio corpo carbonizado. Para alguém que, há muito, se tinha refugiado na imensidão do espaço, rebelando-se contra a família de sangue e construindo novas relações, Kara Thrace viu-se, de repente, desamparada, sem saber para onde se virar e em quem confiar. A profecia do híbrido da basestar, de que ela iria guiar a humanidade até ao seu fim, teve o seu desfecho trágico na Terra, mas a descoberta de uma relação mais antiga com os cylons, através da música tocada no episódio anterior, acaba por ser a última gota que a leva a tentar desvendar o mistério do seu passado.

Com Hera longe da Galactica, Anders (Michael Trucco) a transformar-se lentamente no próximo híbrido e Leoben desaparecido em combate (provavelmente lá pelos lados da Califórnia, junto de Hank Moody), Kara vira-se para Gaius Baltar (James Callis) como último recurso. O que Kara estava à espera de conseguir com Baltar não conseguimos compreender: certamente não foram as falsas palavras deste no rádio, a sua conversa sobre misteriosos “anjos” (as headfigures?) que a convence a pedir ajuda para analisar as correntes que tirou do corpo queimado e obter a confirmação desejada. Mas certamente que ninguém – muito menos Kara – estaria à espera que Baltar não usasse esta nova informação para proveito próprio, como tem feito desde que o conhecemos.

Ao contrário da maioria das personagens, a viagem de Baltar ao longo das temporadas foi a que menos se desviou da original. O Baltar que conhecemos na mini-série era um homem convencido e arrogante, seguro de si e da sua inteligência, firme na sua certeza de que iria conseguir, por isso, vingar. Não era um homem maldoso, tendo contribuído para o genocídio da Humanidade por puro desconhecimento de causa. E, no entanto, também nunca foi alguém capaz de pedir desculpas, de oferecer o seu sincero pedido de perdão pelos crimes que cometeu – consciente e inconscientemente. A confissão em frente a Roslin em “The Hub”, ao contrário de o desculpar, de certa forma, pelos seus pecados, serviu apenas como mais uma prova de que Baltar nunca conseguirá mudar, nunca irá deixar de ser quem é. E se a sua conversão num líder religioso nunca conseguiu, verdadeiramente, enganar ninguém, a forma como revela o segredo de Starbuck no final da magnífica cena do funeral que reúne três povos em crise, três fés que, há muito, se digladiam, acaba por confirmar este facto.

Com a revelação do seu segredo e a confirmação final do seu estatuto, não resta mais nada a Kara do que aceitar o seu destino, aceitar a nova condição do marido, e que poderá nunca vir a descobrir quem é. Nos seus olhos durante a conversa com Lee (Jamie Bamber) junto ao memorial de fotografias, consegue-se identificar todo um leque de emoções, que terminam com a resignação de voltar a colocar a sua fotografia junto de outras figuras marcantes desaparecidas como Kat e Dee. Kara Thrace morreu em “Maelstrom”. No seu lugar está uma outra mulher, uma outra figura, cuja relação com os cylons permanece por explicar, mas que irá, certamente (espera-se, pelo menos), ser revelada no final.

Enquanto os cylons rebeldes, os modelos 6, 8 (e o desaparecido modelo 2) se preocupam em tentar solidificar a Galactica por mais alguns dias, os Final Five encontram-se também eles numa encruzilhada. Com a descoberta da verdadeira paternidade de Nicky, e a morte prematura de Liam, Hera é a última esperança para a continuidade da raça cylon, depois da destruição a que assistimos em “The Hub”. Por isso mesmo, a insistência de Ellen (Kate Vernon) em lançar uma missão de resgate não é de admirar… tal como não o é a reacção de Tigh (Michael Hogan). Aquele que mais sofreu com a descoberta da sua verdadeira identidade, Tigh foi também o Final Five que mais depressa recuperou a boa forma e que mais depressa assumiu as suas anteriores responsabilidades como segundo em comando da frota. A sua casa, o seu lar, não estão, ao contrário do que Ellen afirma, com a mulher dos últimos milénios, e nem mesmo com Six (Tricia Helfer), com quem ele por breves momentos tentou criar um novo lar. Para Tigh não há nada que enganar – a sua primeira responsabilidade é para com a Galactica, para com Adama, o seu amigo de longa data.

Se para uns o lar é junto daqueles com quem serviram durante anos, para Helo (Tahmoh Penikett), que andava desaparecido há muitos episódios até ao fatídico “Someone To Watch Over Me”, nunca ouve qualquer dúvida que o lar era junto da mulher, Athena (Grace Park) e da pequena Hera, por quem ele tanto lutou ao longo dos anos. Enquanto a frota se encontrava em rebuliço, enquanto os ânimos se encontravam exaltados e as desconfianças entre as raças se mostravam impossíveis de controlar, a família Agathon representava uma ilha no meio de toda esta violência, o exemplo perfeito de que humanos, cylons e híbridos poderiam vir, um dia, a viver em harmonia uns com os outros. Mas com a fuga de Boomer da prisão, as cenas na casa de banho frente à mulher e a perda da filha, esta pequena ilha vê-se agora afectada por um furacão. A raiva com que Athena batia em Helo no episódio anterior desvaneceu-se, deixando no seu lugar uma dor tão grande, que não há palavras que consigam explicá-la. A dor da perda de um filho, por que Helo e Athena passaram na segunda temporada, torna-se agora pior ao saber do destino mais do que provável da criança quando chegar às mãos de Cavil, e levam Helo a pedir desesperadamente a Adama que o deixe partir numa missão suicída em busca da filha. Num episódio com vários momentos marcantes, é quase impossível não ficar emocionado com as lágrimas que conseguimos ouvir nas palavras de Helo, e muito menos deixar de desesperar pelo destino da pequena Hera.

Aceitar a realidade, reconhecer os seus defeitos, contestar o seu papel, desesperar pela sua família. Todos os dilemas por que passaram as personagens atrás mencionadas, foram dilemas pelos quais passaram também os dois líderes da frota, Adama (Edward James Olmos) e Roslin (Mary McDonnell), que ao longo desta viagem foram evoluindo e que acabaram por encontrar um lar onde menos esperavam – um com o outro. Roslin acaba por ser a personagem que pega directamente no tema que gere todo este episódio, que tenta, através das suas palavras, convencer o homem que ama a não desperdiçar tudo, a aceitar a realidade e a deixar o seu primeiro grande amor – a sua nave – e partir rumo a um novo destino. Já tivemos diversas provas da casmurrice de Adama, da sua relutância em aceitar o desfecho inevitável. Por vezes, esta sua força foi determinante para a sobrevivência deste povo, mas agora que o fim se aproxima a passos largos, não há mais como evitar a mudança, e qualquer outra decisão apenas irá pôr em risco a sobrevivência de ambas as raças. As conversas entre Adama e Roslin ao longo das temporadas foram sempre marcantes, mas esta, com toda a carga afectiva que consigo acarreta, não nos consegue deixar indiferentes. As lembranças de um tempo mais feliz, mais simples, em New Caprica, que tivemos a oportunidade de ver em “Unfinished Business”, são o gentil empurrão que Adama precisa para ordenar o abandono da nave e a partida para a basestar. A decisão não é fácil de tomar, e mais uma vez dá azo a um cair em desespero, como vimos em “Maelstrom”, em “Revelations”, em “Sometimes A Great Notion”, mas é a única a tomar. O destino de Galactica, esta nave que durante quatro anos (seis, para nós) nos acompanhou, será o da sucata… ou talvez não, pois os planos de Adama e a imagem inicial de Hera no CIC deixa-nos com a certeza de que a despedida virá a ser explosiva.

Num episódio dedicado à procura do lar, fica a faltar mencionar uma personagem para quem este se tornou real nesta trama – Boomer. Quem acompanha esta série desde o início, não conseguiu de certeza deixar de dar um salto na cadeira quando, no final da mini-série, é revelada a verdadeira natureza de Boomer, aquela piloto tão simpática e enamorada. A sua história ao longo da série foi trágica, passando de mulher apaixonada a agente adormecido que tentou matar o seu “pai”, de vítima inocente na primeira temporada a máquina calculista, na terceira, durante a sua estadia na basestar, de amiga a traidora da sua própria raça, das suas próprias irmãs. Ao longo das temporadas, Boomer foi uma das personagens que mais instável se mostrou, e que apenas na ilusão de uma vida perdida, na projecção da sua casa com Tyrol encontrava o seu sossego. E se não temos qualquer dúvida que a projecção que mostrou a Tyrol serviu apenas para o enganar, não há dúvidas também que ver Hera na sua casa projectada, na sua vida imaginada, mudou qualquer coisa dentro dela, forçou-a a ver a criança com outros olhos, com os olhos de uma mãe que nunca o foi. Atingida tarde demais, esta constatação poderá já não ser ser suficiente para salvar a pequena Hera das garras de Cavil (Dean Stockwell). Mas até ao final, ainda restam mais alguns momentos para Boomer provar que é, também ela, merecedora do seu lar.

[starrater]


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